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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Minha Aruanda


As narrativas amazônicas sempre estiveram presentes em minha vida. Lendas e histórias do encantamento da Ilha do Marajó se fazem presente em minhas memórias com as histórias contadas por minha Avó nas férias escolares de julho. São poucos os momentos que me lembro, mas como são gostosos de rememorar... O boto, o respeito pela mãe d'água e a permissão que tínhamos de pedir antes de nos banharmos, a mulher chêrosa (bem paraense) e sua sedução que arrastava qualquer um para a praia do mata fome, a cobra grande e seus três fios de cabelo, o toco que passava bem no meio do rio Paracauari em contracorrente a maré anunciando alguma morte ou coisa ruim naquelas águas... Fecho os olhos e todas essas histórias e lembranças me vem em mente, estão vivas, fazem parte de mim.


Histórias e lembranças que não me saem da cabeça, que chegaram a mim através da oralidade e que depois redescobri nos livros. Ao ler Aruanda de Eneida de Moraes pela primeira vez, senti como se tivesse reencontrando e ao mesmo tempo descobrindo raízes. Como a identificação foi imediata com aquelas palavras, com aquela doçura no contar das suas lembranças da nossa tão amada terra. Eneida me ensinou a enxergar o que antes apenas via na realidade desta tão amada terra; Belém e seu cotidiano, seus personagens, sua gente, seus cheiros e suas cores... Encontro nos textos de Eneida um porto. Suas lembranças tornaram-se minhas; todos são próximos, como esquecer de sua amiga Clócló, dos momentos vividos na prisão durante a revolução de 30 juntamente com suas companheiras, do seu irmãozinho sem talento para o futebol mas um campeão na natação, da ânsia pela volta do pai depois de longas viagens por estes rios da Amazônia, voltando gordo de histórias para alegar os jantares em família.

Aruanda é um livro que me fez redescobrir minha infância e minhas memórias e me fez valorizar minha história, meu amor pela minha terra, pela Amazônia Das lembranças de Eneida construo agora minha Aruanda, com minhas histórias, meu passado e meu presente e meu agora, com as minhas memórias, eu existo!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O eu e os outros eus... aqui!

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIX"
Heterônimo de Fernando Pessoa

A vida é sempre um recomeço...


Aqui se inicia mais uma tentativa de manutenção de um blog. A primeira se deu nos tempos idos de aulas de teatro, no qual cada aula era uma novidade e eu adorava compartilhá-las. Entretanto, a rota contramão do ônibus e a convivência com pessoas que já se consideravam quase que estrelas da novela das oito me levou a desistência do teatro e do blog também...

Hoje retorno com o mesmo objetivo: utilizar este espaço virtual como um diário de bordo, no qual deixarei marcadas minhas experiências, boas e ruins, estimulantes e frustrantes... A vida é múltipla, vamos nos permitir!
Ao mesmo tempo, não é novidade para quem me conhece a minha inconstância tantos nas ações como no mundo das ideias. Antes de agir crio tantas conjecturas que me canso, resolvo dormi e acordo já sem nenhum compromisso com o que tinha pensado ou feito antes.

Porém, ao pensar no recomeço deste blog me vem à mente o filme Julie & Julia (2009) de Nora Ephron. Julie & Julia mostra a história de vida de duas mulheres separadas pelo tempo, mas que compartilham de algo em especial: cozinhar mudou suas vidas.

Julia Child (interpretada por Meryl Streep) vai morar em Paris com seu marido embaixador. Arrisca-se em vários projetos de vida sem saber o que realmente quer, até que seu marido lhe sugere fazer a coisa que mais gosta de fazer no mundo: comer e cozinhar. Cozinhar e posteriormente a escrita de um livro de culinária, se tornam a razão de sua vida. Mais de 60 anos depois, sua paixão pela arte culinária influencia Julie Powell, uma entediada e frustrada funcionária pública. Julie levava uma vida cansativa, estressante e sem muitas alegrias. Sua vida muda completamente quando junto com seu marido tem a ideia de reproduzir durante 365 dias as 524 receitas provenientes do livro de Julia Child, “Dominando a arte da culinária francesa”.

Bem, Julie Powell, era jovem insegura, inconstante, dramática e com dificuldades de levar os planos para frente. Ao escrever o blog, sua vida mudou. Essas características de Julie podem ser facilmente identificadas em qualquer jovem com até 40 anos hoje. Nunca pensei ser  único, nem meus dramas e problemas os maiores do mundo e também não acredito que o blog irá mudar minha vida, nem cozinhar e hoje, nem mais as artes dramáticas...
Minha vida não é um roteiro de cinema, bem, pelo menos por enquanto...